quarta-feira, novembro 27, 2019

Preparativo'

Dá pra perceber?
Voltar é sempre partir,
Nada é espécie eternamente;
Tem vez que é apenas extinção.
Voltar é sempre partir se não for de ti…
E eu torço pra que tu não erres o caminho.
Dá pra perceber?
Deixar é sempre manter,
Tudo é falta consequentemente;
Tem vez que é apenas vazio.
Deixar é pra sempre manter se não for por mim…
E eu rezo pra que tu não fiques sozinho.
Dá pra perceber?
Tua ida é sempre minha volta,
Nada é sentido permanente;
Tem vez que é apenas febril.
Tua ida é pra sempre minha volta se não for por aqui…
E eu sonho pra que tu me leves contigo. 
Dá pra perceber?
Ninguém morre sozinho,
Meia dúzia sempre se vai, e da tua eu sou a quinta.
Tu achas que vai caber?  Ninguém morre sozinho,
E logo levarei outra dezena comigo.




[Suelen de Miranda]





*Quanto tempo é tempo o suficiente?
Quanto deveria durar? Eu sinto que já passei da validade do aceitável. 
Me perdoa mas eu não consigo parar de lembrar. E não é óbvio como se acha. Não esquecer é completamente diferente. 
Minha memória recente cada vez pior, e o mundo existe cada vez menos fora da minha cabeça. 
Eu e ele naquela parede, em frente ao fogão, antes de abrir a porta, na frente da loja depois de parcelar no crediário, entre expedientes. Ele no portão de casa sem chamar. Eu levando o gato pra dormir na sala pra não demorar. A batata queimando. O vinho e o amaciante pra não manchar, não esquece das meias porque meu pé é feio e eu fico com friagem. Ela me pedindo pra segurar o cachorro imaginário, e eu com medo de assumir. Eu esqueci a piada do pombo. Eu acho que era algo sobre eles comerem ratos com uma entonação adulta demais. 
Meu trabalho, minha mãe na mesa da cozinha, minha melhor amiga indo embora de novo, meu pai cuidando de tudo, minha irmã se escondendo e a outra lutando, meu cachorro me esperando... Nada disso existe durante muito tempo porque tudo é falta e a falta toma tudo.
O apartamento sempre tinha cheiro de gato, e a barba as vezes ficava úmida. Ninguém sabia daquilo tudo, então ninguém sabe como é. 
Eu não estou aqui.
Perdoa.

sexta-feira, outubro 25, 2019

Febre'

Eventualmente o que é bom se acaba. 
Talvez por isso eu deito no mesmo lugar da cama onde quando,
Talvez por isso faço questão de voltar.
Dizem que a vida inteira às vezes é pouco,
Mas quem sabe sou eu. Eventualmente o que é ruim se cala.
Talvez por isso eu olho a lua no mesmo horário que me avisou,
Talvez por isso faço questão de seguir.
Há quem diga que tudo passa,
Mas quem diz nunca te perdeu. 
Eventualmente o que é bom se acaba.
Talvez por isso eu velo teu corpo toda noite depois da transa,
Talvez por isso faço questão de visitar.
Dizem que é preciso seguir em frente,
Mas esqueceram de me perguntar;
Se eu…
Talvez eventualmente tu se acabe em mim,
Talvez por isso faço questão de não deixar. 
Há quem diz mas nunca soube,
Que eu durmo todos os dias em que tu morreu.
Mas que não é longe, e sim aqui;
Que tu morre todas as noites onde eu me deito.



[Suelen de Miranda]


*Não é de hoje. Mas hoje me veio.
Talvez uma hora dessas eu me atrase pro trabalho, e nunca mais vá. Talvez uma hora dessas eu demore pra responder, e nunca mais esteja lá. 
Tem coisa que não tem mais como arrumar. Compra outra de mim e segue.
Ler textos antigos de momentos onde eu olhei a ponte de perto, e perceber que sempre dá pra doer mais. Que sofrer é expansível.

Sempre dá pra doer mais. Vê como isso é o fim?

you wrecked my existence. 

segunda-feira, outubro 21, 2019

Contrato'

Não sei o que fazer.
Passo por todas as bocas sem provar, 
Meu gosto e meu nome sem ti para separar.
A rua em que tu caiu eu quero ladrilhar.
Tanto faz, que seja chuva, 
Contanto que caia, contanto que te traga. 
Tu saberias o que dizer...
Não sei o que fazer.
Passo por todas as mãos sem segurar,
Meu cheiro e minha pele sem ti para marcar. 
O chão em que tu sangrou eu quero alvejar.
Tanto faz, que seja raio,
Contanto que atinja, contanto que me leve.
Tu saberias o que dizer…
Não sei o que fazer.
Passo por todos os dias sem estar,
Meu choro e minha poesia sem ti para reparar.
O futuro de que tu deixou eu quero encontrar.
Tanto faz, que seja sereno,
Contanto que caia, contanto que me traga.
Não sei o que fazer…
O que tu me dizia não me serve sem ti,
A medida em que o tempo passa eu consigo ver…
Nada mais me cabe, pois eu mudei para caber você.



[Suelen de Miranda]


Que droga de texto. Mas uma das promessas eu tenho de manter. Pelo menos uma delas. 
O que eu quis aqui desde o início era me despir. 
Quando eu prometi a mim mesma que iria parar de sugar as pessoas, esqueci de considerar o fato do quão solitário se é. 
É onde eu tropeço. É onde você, ou ele, ou ela me conhece. E eu sinto muito.

Até mais ver, coração. Esqueci de concordar aquele dia, é sim uma frase bonita. Me espera que eu to a caminho.


domingo, outubro 06, 2019

Hermético'

Nada nunca é. 
Tudo somente está. 
O que tu não erra, eu não sei acertar. 
Não importa quantos volumes,
O que oxida se opõe e o que fica não se abre. 
Nada nunca é. 
Tudo somente está.
O que todos me mostram, eu não consigo aprender.
Não importa quantas faixas,
O que se canta se acredita e o que fica não dança. 
Nada nunca é. 
Tudo somente está.
O que foge não perdoa e o que fica se arrepende. 
Nada nunca é,
Tudo sempre é estar…
O que eu quero dizer não vai creditar,
Mas 'estar' se torna 'ser' se não parar de acontecer. 




[Suelen de Miranda]

*https://www.youtube.com/watch?v=6_vjyVG3ClQ
Acontece todos os dias. 
Escrito fora de casa. Infelizmente todos estão certos. Não deixar ir é questão de escolha. Mas escolhas têm fundamento. Meu perdão, peço apenas por estar sendo irracional. Doer é melhor que nada nesse caso...No meu caso. 
Dor respinga, sabe? Me desculpa já pelas gotas na tua roupa. 
Eu vou morrer sozinha. Pode jogar fora, que estragou.

sexta-feira, setembro 20, 2019

Proposta'

Qualquer um serve. 
Contanto que me sirva,
Que segure minha mão pela metade;
Caindo em forma de dezessete frases sem saber parar. 
Seria cômico se tua carne já não houvesse sido digerida,
Seria mais fácil se tua morte fosse longe como dizem.
Me deixa te contar…
Qualquer um serve.
Contanto que me sirva,
Que dance comigo após parcelar a compra;
Beijando em forma de risada sem querer disfarçar.
Seria engraçado se teu carro pela metade ainda fosse nosso guia,
Seria mais fácil se tua ausência fosse temporária como dizem.
Me deixa te culpar…
Qualquer um deveria servir,
Contanto que me servisse,
Que me chamasse pelo nome do órgão que ama;
Abraçando em forma de mãos minha garganta sem poder deixar.
Qualquer um deveria servir,
Contanto que tomasse teu lugar,
Ou que ao menos me fizesse parar de desejar.
Pois onde tu me esperas não dá de visitar,
A não ser que me busque numa dessas noites; E como sempre não me deixe voltar pra casa.
Qualquer morte serve.




[Suelen de Miranda]


*As visualizações mostram como luto cansa. Se ler já é fadiga, imagina sentir. 
Tem dias que eu não sei como a perna direita vai levar a perna esquerda e eu vou chegar no trabalho.
Tem dias como hoje que ele vem me visitar demais e eu quero só ir junto.
Hoje a música gritou nessa cabeça cansada feito sanatório. E apesar de todas as quedas, eu agradeço por vir. 
"Chove toda vez que eu sinto saudade." Pessoas da cidade que me perdoem. Céu é cúmplice. 
Sinto a falta sem tamanho. Toma tudo e tudo se toma. 
Morreu. TEM IDÉIA DO QUE É ISSO? Morreu. 
E PORQUE NÃO EU?


domingo, setembro 15, 2019

Perícia'




E se fosse você?
Se todas as ruas eu tivesse percorrido, 
Voltado pra casa sozinha sem te conhecer…
Alimentado o gato tarde demais enquanto respirava fumaça?
Tu também te esconderia nas lembranças?
E se fosse eu?
Se todas as portas tu tivesses trancado,
Deitado sozinho por me querer…
Apagado chances demais enquanto engolia solidão?
Tu também te engasgaria com a culpa?
E se você você?
E se fossemos nós?
Se todas as manhãs nos beijando com as pernas,
Enfrentando os opostos sem recuar…
Agendado um futuro sem pedir permissão?
Tu também se sentiria como eu?
Teus dias também não fariam sentido pelo que tens sentido?
Todas as pessoas da tua vida também tanto fariam pelo que têm feito?
E se fosse você que tivesse ficado…
Esperado notícia minha de mãos espalmadas…
Enquanto eu caísse da calçada para o lençol,
Voltando pra dentro de um lugar que nem chave teria pra te dar?


[Suelen de Miranda]

*Should i apologize for the only way i found to hold together what he broke?
Porque não eu? 

Eu nem nunca quis ficar. Porque não eu? Porque não eu? Porque não eu? Porque não eu? Porque não eu? Porque? Porque? Porque não eu? Porque não eu? Porque? Porque? Porque?
Eu não volto nunca mais. Fico por aqui pra não machucar quem ficaria se fosse eu. Pois eu sei como dói. 
Mas está difícil segurar. Não sei por quanto tempo. 
Porque não eu?

terça-feira, setembro 10, 2019

Bula'





Há sempre um problema.
Tu que se foi de nada adianta,
Teus gritos não me tremem as janelas…
Meus joelhos não tocam tua cova. 
Há quem diga que tudo se resolve;
Mas se tu morto desejando viver,
E eu viva desejando te ver.
Nenhum de nós poderia prever.
Há sempre um problema.
Ele que se vai de nada adianta,
Minhas mãos não acertam seu ritmo…
Seus olhos não me perfuram a carne.
Há quem diga que tudo se resolve;
Mas se eu escondendo a chave,
E ele tateando o escuro. 
Nenhum de nós poderia querer.
Há sempre um problema.
Eu que permaneço de nada adianto,
Todos os toques não me sentem por dentro…
Minhas dores não sabendo chorar.
Há quem diga que tudo se resolve;
Peço que se olhe onde vai assinar.
Pois foi escrito em letras miúdas pra que ninguém mais pudesse ler.
Onde eu pontilho minhas linhas não tem lugar para escrever.



[Suelen de Miranda]




*Por algum motivo o mundo fez silêncio dentro desse quadrado hoje.

Talvez um dos piores textos atuais. Talvez, mas tanto faz.
Uma das poucas promessas que eu ainda tenho mantido comigo, e assim continuo sem filtro. 

Não parece certo. Mas é sentimento de lar. 
É sempre mais correto fugir, e tratar com ausência. Mas quem sou eu pra saber? Está tudo errado.
Me perdoa?