Dá pra perceber?
Voltar é sempre partir,
Nada é espécie eternamente;
Tem vez que é apenas extinção.
Voltar é sempre partir se não for de ti…
E eu torço pra que tu não erres o caminho.
Dá pra perceber?
Deixar é sempre manter,
Tudo é falta consequentemente;
Tem vez que é apenas vazio.
Deixar é pra sempre manter se não for por mim…
E eu rezo pra que tu não fiques sozinho.
Dá pra perceber?
Tua ida é sempre minha volta,
Nada é sentido permanente;
Tem vez que é apenas febril.
Tua ida é pra sempre minha volta se não for por aqui…
E eu sonho pra que tu me leves contigo.
Dá pra perceber?
Ninguém morre sozinho,
Meia dúzia sempre se vai, e da tua eu sou a quinta.
Tu achas que vai caber?
Ninguém morre sozinho,
E logo levarei outra dezena comigo.
[Suelen de Miranda]
*Quanto tempo é tempo o suficiente?
Quanto deveria durar? Eu sinto que já passei da validade do aceitável.
Me perdoa mas eu não consigo parar de lembrar. E não é óbvio como se acha. Não esquecer é completamente diferente.
Minha memória recente cada vez pior, e o mundo existe cada vez menos fora da minha cabeça.
Eu e ele naquela parede, em frente ao fogão, antes de abrir a porta, na frente da loja depois de parcelar no crediário, entre expedientes. Ele no portão de casa sem chamar. Eu levando o gato pra dormir na sala pra não demorar. A batata queimando. O vinho e o amaciante pra não manchar, não esquece das meias porque meu pé é feio e eu fico com friagem. Ela me pedindo pra segurar o cachorro imaginário, e eu com medo de assumir. Eu esqueci a piada do pombo. Eu acho que era algo sobre eles comerem ratos com uma entonação adulta demais.
Meu trabalho, minha mãe na mesa da cozinha, minha melhor amiga indo embora de novo, meu pai cuidando de tudo, minha irmã se escondendo e a outra lutando, meu cachorro me esperando... Nada disso existe durante muito tempo porque tudo é falta e a falta toma tudo.
O apartamento sempre tinha cheiro de gato, e a barba as vezes ficava úmida. Ninguém sabia daquilo tudo, então ninguém sabe como é.
Eu não estou aqui.
Perdoa.
Dos preparativos à melancólica pós-existência nos rituais em que interpretamos a nós mesmo
ResponderExcluirSempre seguimos e chamamos um ou outro de dor, no corredor das memórias
Mesmo fluxo de prazer, alegria, tristezas e mortes virando a esquina, esquecidos
Tudo isso deixou marcas, não nego, mas o que se quer na volta, o que será em volta?
Presságios presentes de duetos em preto e branco? lagrimas e suicídios textuais?
Sei que nossa poesia é aleatória para o universo, fazendo um sentido, mão única
Como uma estrada e todas as estradas, sempre levando ao mesmo caminho nós
Pé ante pé diante do próximo passo ao um abismo chamando eu e sendo eu
Esses caixões travesseiros, travessos de uma depressão? São textos ! Tijolos que vem e ficam
Até sair em versos ou num silêncio não escrito, choramos, rimos, amamos, morremos.
Sentimos e escrevemos, ainda estamos por aqui ;)