domingo, junho 28, 2020

Diminutivo'

Tua sujeira ninguém viu.
Que tivesse me jogado pra fora do carro,
Ou quem sabe me marcado a carne.
Há quem diga que eu escondi,
Há quem ache que eu não senti.
Eu digo que as piores mortes são as que ninguém vê adoecer.
Teu fedor ninguém sentiu.
Que tivesse me sujado as roupas,
Ou quem sabe me infectado as veias. 
Há quem diga que eu sobrevivi, 
Há quem ache que eu consenti.
Eu acho que as piores doenças são as que ninguém vê apodrecer. 
Tua sujeira ninguém viu, 
Me manchou e ensinou o que eu deveria ser.
Tudo o que tu querias, te parabenizo por conseguir;
Usar meu corpo de lixeira sem destruir.
Não te preocupas com quem vier coletar,
Ninguém vai te ver…
Pois tu me ensinou a esconder.


[Suelen de Miranda]

*https://www.youtube.com/watch?v=OTbWUc9e05k
Tem dia que ele ainda tem a chave do portão, entra e senta pra tomar café. Não é dele que eu estou falando. 
É dele.
Tem sujeira que não sai. Aceita que eu sou doença ruim de se livrar. O dia em que ele teve a cara de pau de visitar como quem esquece o que fez ou não se arrepende. Aquele dia só agora eu entendi. Na verdade eu nunca deixei de entrar no carro, nem de me despir. Nunca deixei de me esconder no banheiro, nem de digerir. 
Se tu for agora me procurar, ainda vou estar ao lado da privada esperando a mãe chegar.

segunda-feira, junho 22, 2020

Manifesto'



Tudo que é real é breve.
Das flores ao teu sorriso,
Mesmo as coisas que ninguém ousa clamar.
A chuva se torna ferrugem e ninguém crê.
Tudo que leva tempo, pediu permissão para ser. 
E tu, és o que?
Tudo que é real é urgente. 
Do ar à minha boca,
Como as coisas que ninguém admite querer. 
O sol apaga as cores e ninguém vê acontecer.
Tudo que se demora, cuida pra poder permanecer.
E eu, sou o que?
Tudo que é, aqui já deixou de ser.
Da dor à tua certeza…
Do amor aos meus rodeios. 
Há quem deixe de piscar os olhos pra não desaperceber,
E acaba por esquecer que o sentir é como o céu;
Faz dia virar noite pra quem precisar ver.
E mesmo que não se levante o olhar, existe e insiste em querer ficar.


[Suelen de Miranda]

*https://www.youtube.com/watch?v=CMyRfIpNvPs
Cometi o erro de olhar os posts antigos. Por algum motivo, não me acalenta lembrar da dor que eu sentia na época e que hoje ainda persiste mas que não chega nem perto. Acalenta menos ainda, ver a minha força na época. Antes de me tornar isso aqui. 
No meio disso tudo, tu és coisa boa... Exatamente por isso, me perdoa?.
É cansaço que o sono não quebra. Talvez seja por isso que nunca se acaba. Hoje estava alto de novo. Cansa e dói. 
Cala essa maldita boca.


terça-feira, junho 09, 2020

Contrito'



Tenho pouco tempo.
Culpa aquele homem que me roubou,
Agradeça à todas, menos uma;
E sempre que chover, lembra de chorar.
A culpa que ninguém carrega, eu fiz questão de juntar.
Não precisa mais me odiar;
Pois eu já.
Tenho pouco tempo.
Entrega pra ela a chave da porta,
Conta pra todos, menos um;
E sempre que o céu abrir, lembra de olhar.
A dor que ninguém sente, eu fiz questão de tomar.
Não precisa mais me culpar;
Pois eu já.
Tenho pouco tempo.
Tu precisas me ouvir mas eu não posso falar;
Onde eu tenho de chegar, rua nenhuma pode levar.
Me perdi ao pegar o atalho abrindo aquela janela, 
E não parei de andar após deixar minha carne naquele lugar.
O tempo todo que eu tinha ele gozou em terra fria…
E o que restou, joguei junto da flor e areia naquele dia. 

[Suelen de Miranda]



*https://www.youtube.com/watch?v=S_b1X6f5GZI
Eu não sei onde queria chegar com isso. Talvez no mesmo lugar de sempre. Aquele onde eu aviso que não sei por quanto tempo eu aguento, e peço desculpas até pelo ar que eu continuo a respirar.
É estranho ir contra si nessa natureza de perdurar.
Hoje fez mais 2 ou menos 2, depende de quem escuta. Depende de quem sabe. 
Eu trato da dor, do ódio e da culpa... Te peço perdão por hoje não te lembrar com sorriso.