domingo, março 29, 2020

Atraso'

Primeira e última. 

De onde eu vim tu nunca esteve, 
Pra onde tu vai eu nunca fui. 
E não é de encontros que vivemos, 
O chão dos teus pés e as paredes da tua carne nunca me foram morada. 
A passagem nem sempre é ponte,
E eu nem sempre úmida. 
Primeira e última.
O que eu fiz tu nunca precisou,
O que tu fará eu não sobrevivo.
E não é de distâncias que morremos,
O teto de minhas mãos e a porta do meu peito nunca te foram abrigo.
A chegada nem sempre é chave,
E tu nem sempre maciça. 
Primeira e última.
O que ontem foi fim, hoje pode não ser ínicio;
E o perdão que eu peço pode não ser o último.
Começa e termina.  
O que ontem foi teu, hoje pode não ser por mim;
E a tempestade que eu trago pode não ter fim.
Espera. 


[Suelen de Miranda]

*Me deixa ir. E não é pra ti que eu peço. É pra mim. Me larga e me segura. 
O medo faz tudo ser margem ou eu sempre fui rasa? 
"Eu acredito em você, eu não estou errada." Mas hoje eu descobri que a falta me drena e eu volto pra cadeira e choro chegando a chiar enquanto peso a cabeça na barriga da minha mãe.
Hoje tu morreu e eu matei novamente.
Se tudo que eu consigo ser é dor. Porque? 


sábado, março 21, 2020

Liminar'

Toda dor faz sentido.
Por todos os dias que tu esteve na segunda janela, 
Por todas as noites que tu esperou sem dormir.
Nem tudo tu soube, 
Mas eu te amei todas as tardes e cheguei a cada madrugada. 
Toda dor faz sentido.
Por todos os beijos que eu não aprendi a dizer,
Por todas as idas em que eu fiquei sem saber.
Nem tudo eu soube, 
Mas tu me amou todos os choros e me despiu cada palavra.
Toda dor faz sentido. 
Por tudo que se foi e em tudo que se fez,
Tudo que hoje nada é, foi só o que existiu um dia.
Por isso eu insisto,
Toda essa dor faz sentido.
Já que tudo é apenas oposto, credita o que eu digo;
Toda tua presença e amor, hoje é falta e castigo...
Sentido.


[Suelen de Miranda]

*sem música. Do silêncio deixado. De tudo que nada mais é. 
Quando eu acho que sim, lembro que não. E não me é falta de memória, é seleção pra tentar viver. 
Estou cansada. Me deixa descansar. Me deixa. Me deixa. Me deixa ou me leva. Me deixa. 
Contanto que eu não minta pra ti, coração. Contanto que eu não minta. Então me escuta. 
Então me ajuda. 
i'm in chains. don't touch my chains. break them gently. i'm scared.  

sexta-feira, março 13, 2020

Bálsamo'




Tu foi o vento pela janela,
Meus cabelos e as folhas, tu tirou pra dançar.
Eu estava cansada e tu me levou nos pés.
Apesar de fechar, tu sabia da brecha. 
Não me espera, pois eu sei que demora;
Tua volta eu espero uma vida inteira a cada dia. 
Tu foi a música por entre as luzes,
Minhas mãos e suor, tu sustentou no olhar.
Eu estava feliz e tu tentou me guardar. 
Apesar de doer, tu aceitou a espera.
Não volta, pois o mundo não te condiz;
Minha ida eu acelero uma noite inteira a cada rotina. 
Tu foi a chave todo esse tempo,
Minha vida e tua morte, tu não soube intercalar.
Eu estava preparada e tu não ficou pra me ensinar.
Apesar de não, eu te disse sim. 
Não fica, pois eu não fui ainda; 
Os lugares que tu não poderá me levar, eu terei de ir sozinha.

[Suelen de Miranda]



*https://www.youtube.com/watch?v=zIXnT0s0f3s
Eu comecei pra ele e fui visitar ela em várias estrofes. 
Eu sinto a falta todo dia, e minha vida nunca será vida se não estiver. Mas mesmo assim, eu acordo, vejo minha mãe e as vezes tem sol. Tem gente que me quer por aqui mesmo eu não entendendo. Apesar de tudo, tem dia, tem noite. Apesar dele. Parte de mim vê isso de forma bonita. O resto me afoga e eu não sei se vou conseguir dormir hoje pela quarta vez essa semana e fingir normalidade em horário comercial. Me larga, coração... Ou vou ter que te seguir.